E, em particular, para cortar os hidratos de carbono á noite se quer emagrecer.
Também acredita que devemos comer frequentemente, tipo de 3
em 3 horas?
Parece de bom senso. Mas será que o nosso corpo também “pensa”
assim?
Para começar, comer frequentemente pode eventualmente ajudar
a controlar a fome. Isto se a pessoa tiver auto-disciplina para não exagerar
nas doses dos “lanchinhos” ou na qualidade dos mesmos. Mas quem não sente esta
necessidade, apenas 3 refeições por dia (ou 4, que o lanche sabe bem) são
suficientes e pode fazê-lo sem problemas na consciência – dizem os estudos.
Já em relação ao pequeno-almoço, há vários estudos que
mostram a sua importância. Não se deve saltá-lo.
…Não mesmo?
Há pessoas que não têm fome de manhã e não é por isso que
vão alarvar à hora do almoço – como comprovaram os estudos. E foram mais longe,
aprofundaram as análises e verificaram que não havia relação assim tão óbvia entre
a ausência desta primeira refeição do dia e a obesidade.
Para os que não abdicam do pequeno-almoço: aqueles ricos em
fibra são melhores do que os de hidratos de carbono simples.Parece sensato.
A questão que se coloca agora é esta: deverá ser reforçado? Ou
seja, devemos comer mais durante a parte da manhã ou durante a parte da tarde?
Bem, um estudo com pessoas acima do peso mostrou que a refeição mais calórica
deveria ser tomada ao pequeno-almoço e não ao jantar. E quem tem tendência para
se alimentar mais para a noite costuma optar por alimentos mais calóricos, de
má qualidade, ingerindo no total menos verduras, o que pode levar ao aumento de
peso. Mas, por outro lado, uma grande análise aos hábitos alimentares
(envolvendo milhares de pessoas) revelou que as pessoas que consumiam a maior
parte das suas calorias na parte da tarde/noite não tinham mais tendência para
engordar do que as outras. E para complicar, outro estudo mostrou que comer bem
á tarde/noite ajuda a preservar a massa magra.
Esta grande confusão pode ser obra da interacção entre a quantidade
e a qualidade dos alimentos, as horas a que os comemos, como estes são
combinados, e em que estado está a nossa resposta hormonal.
Pessoas obesas têm diferentes respostas hormonais: por
exemplo, produzem menos leptina, a hormona da saciedade. Estudos científicos
feitos com este grupo particular podem não se adaptar a pessoas não obesas. Já
a qualidade dos macronutrientes também tem a sua hora do dia “preferida”.
Proteínas são alimentos “termogénicos”: para metabolizá-los há gasto de energia
na forma de calor. Por este motivo faria sentido serem consumidos durante o
dia. E até há estudos que mostram benefícios metabólicos em consumir mais
proteínas durante o dia, mesmo ao pequeno-almoço.
Então e o que sobra para o jantar? Pois, adivinhou: hidratos
de carbono. Estas são as descobertas mais recentes. Concentrar os hidratos de
carbono à noite é benéfico para diabéticos, por exemplo, e favorece a perda de
peso em obesos. Sim, perda de pedo. Esta dieta talvez um dia seja conhecida
como “a dieta muçulmana” pois foi inspirada nos hábitos alimentares durante o
ramadão por investigadores israelitas. Esta descoberta recente mostrou que, no
caso específico de dietas de restrição calóricas a pessoas obesas, é mais
eficiente guardar os hidratos de carbono para a noite e alimentar-se de
proteínas, lípidos e vegetais de baixo índice glicémico durante o dia – isto é,
em letras miúdas, nas dietas de “passar fome”, comer os hidratos de carbono á
noite ajuda a sentir mais saciedade durante o dia devido a alterações nas
oscilações circadianas hormonais. Com este tipo de dieta a leptina (hormona da
saciedade) domina durante o dia, trocando com a grelina (hormona da fome) que
passa a ter mais expressão durante a noite, quando estamos a dormir!
Concluindo, proteínas e lípidos durante o dia e hidratos de
carbono á noite ajuda a emagrecer com menos sofrimento!
Pelo menos em pessoas obesas com restrições calóricas.
No caso de desportistas, talvez não seja uma boa aposta
largar os hidratos de carbono durante o dia, mesmo que queiram emagrecer. Eu
pelo menos não vou fazê-lo. Mas uma coisa é certa, também não vou retirá-los do
jantar. Até porque, quem é que depois resiste a um ataque ao frigorífico antes
de deitar?
Constança Camilo-Alves
Bibliografia consultada:
Carlson O. et al. (2007) Impact of reduced meal frequency without caloric restriction on
glucose regulation in healthy, normal-weight middle-aged men and women. Metabolism
56.12: 1729-1734.
Ekmekcioglu,
C., & Touitou, Y. (2011). Chronobiological aspects of food intake and
metabolism and their relevance on energy balance and weight regulation. Obesity
Reviews, 12(1), 14-25.
Gallant A.,
Lundgren J., Drapeau V. (2013). Nutritional Aspects of Late Eating and Night
Eating. Current Obesity Reports, 1-7.
Gatenby SJ
(1997). Eating frequency: methodological and dietary aspects. British Journal
of Nutrition, 77(1), S7.
Jakubowicz
D. et al. (2012) Meal timing and composition influence ghrelin levels, appetite
scores and weight loss maintenance in overweight and obese adults. Steroids
77.4: 323-331. Levitsky DA, Pacanowski
CR (2013) Effect of skipping breakfast on subsequent energy intake. Physiology
& Behavior 119: 9–16
Jakubowicz,
D., Barnea, M., Wainstein, J., & Froy, O. (2013). High caloric intake at
breakfast vs. dinner differentially influences weight loss of overweight and
obese women. Obesity.
Kant AK,
Schatzkin A, Ballard-Barbash R (1997). Evening eating and subsequent long-term
weight change in a national cohort. International journal of obesity and
related metabolic disorders: journal of the International Association for the
Study of Obesity, 21(5), 407.
Keim, N.
L., Van Loan, M. D., Horn, W. F., Barbieri, T. F., & Mayclin, P. L. (1997).
Weight loss is greater with consumption of large morning meals and fat-free
mass is preserved with large evening meals in women on a controlled weight
reduction regimen. The Journal of nutrition, 127(1), 75-82.
McCrory, M.
A., & Campbell, W. W. (2011). Effects of eating frequency, snacking, and
breakfast skipping on energy regulation: symposium overview. The Journal of
nutrition, 141(1), 144-147.
Sofer, S.,
Eliraz, A., Kaplan, S., Voet, H., Fink, G., Kima, T., & Madar, Z. (2011). Greater
weight loss and hormonal changes after 6 months diet with carbohydrates eaten
mostly at dinner. Obesity, 19(10), 2006-2014.
Sofer, S., Eliraz, A., Kaplan, S., Voet, H., Fink, G., Kima,
T., & Madar, Z. (2012). Changes
in daily leptin, ghrelin and adiponectin profiles following a diet with
carbohydrates eaten at dinner in obese subjects. Nutrition, Metabolism
and Cardiovascular Diseases.
Sem comentários:
Enviar um comentário