O que é que os campeões de desportos de resistência (em
particular corrida de maratonas e ciclismo de estrada) têm, que nós não temos?
1- Elevado VO2
max: O volume máximo de oxigénio que o nosso organismo consegue consumir
por minuto.
Este valor está relacionado com débito cardíaco, a
quantidade de hemoglobina no sangue, uma boa circulação do sangue nos músculos
e capacidade de extracção de oxigénio pelos músculos e, nalguns casos, a
capacidade dos pulmões em oxigenar o sangue.
Os campeões têm valores entre 70 a 85 ml/kg/min. As campeãs
cerca de 10% a menos devido à menor concentração de hemoglobina.
As pessoas activas, mas não-atletas, apresentam VO2 max.
entre 35 a 40 ml/kg/min.
2- Elevado limiar
do ácido láctico (ou limiar do lactato, ou limiar anaeróbico): Refere-se
à intensidade do exercício a partir da qual começa a acumular-se lactato no
sangue. Acumula-se porque a sua produção é superior ao seu consumo, e dá-nos
uma indicação de quanta energia está a ser produzida pelos processos
anaeróbicos. Ou seja, a energia produzida pelos métodos aeróbicos – com oxigénio
– não é suficiente para dar conta das necessidades àquelas intensidades.
Os campeões têm o seu sistema aeróbico tão eficiente que só
começam a produzir energia pelas vias anaeróbicas a intensidades de treinos lá
perto do seu VO2 max. Isto é, quando o consumo de oxigénio anda entre
os 85-95% da sua capacidade máxima. Os atletas recreacionais têm limiares entre
65-80% da VO2 max, e os restantes mortais começam a acumular lactato
a 60% do seu VO2 max, portanto a intensidades bem mais baixas.
Outro factor importante que ajuda a elevar este limiar
anaeróbico é a quantidade de fibras musculares. Mais fibras a partilharem o
esforço, alternando-o entre elas, permite-lhes cansarem-se menos. Os campeões “conseguem”
alternar o esforço entre 25% de mais massa muscular.
3- Maior
eficiência/ economia- ou seja, a potência que é gerada para um dado custo
metabólico (ou a quantidade de oxigénio consumido que é realmente utilizado
para produzir potência).
Pensa-se que essa eficiência esteja relacionada com a
quantidade de fibras musculares tipo I, mais “lentas” mas mais eficientes a
produzir energia. Já a quantidade de fibras tipo I e II que temos está
determinada geneticamente, e acreditava-se que eram estáveis. No entanto, é possível
que, ao longo dos anos de treinos de resistência, haja alguma plasticidade nas
fibras para se tornarem do tipo I.
Os atletas também aumentam a eficiência ao usar uma cadência
de cerca de 90 r.p.m, que é bastante eficaz para produzir energia por volume de
oxigénio consumido.
Sabe-se que as 2 primeiras condições fisiológicas podem ser bastante
alteradas através dos treinos. Já a 3ª, nem por isso.
Mas mesmo para as duas primeiras, não se sabe quanto é mérito
da genética e quanto mérito é dos treinos. Vamos então fazendo o que podemos, *que
é treinar.
Constança Camilo-Alves
Artigos científicos
consultados
Joyner, M. J., & Coyle, E. F. (2008). Endurance exercise performance:
the physiology of champions. The Journal of physiology, 586(1),
35-44.
Faria, Erik W., Daryl L. Parker, and Irvin E. Faria. "The science of
cycling." Sports medicine 35.4 (2005): 285-312.
Sem comentários:
Enviar um comentário