A quantidade de glóbulos vermelhos está fortemente
relacionada com a capacidade de transporte de oxigénio do sangue para os
músculos – portanto, com o VO2 max. – o consumo máximo de oxigénio
Os glóbulos vermelhos (hemácias ou eritrócitos) têm
hemoglobina, uma proteína que contém ferro – onde se liga o oxigénio que
respiramos – sendo assim transportado pelo sangue.
A insuficiência em ferro pode originar anemia ferropriva, sendo
um dos sintomas a fadiga.
Nos desportistas de resistência pode ocorrer uma “falsa
anemia”, transitória, que é causada, não pela carência em ferro, mas por um
aumento natural do plasma sanguíneo. Com aumento da parte líquida do sangue, a
concentração de glóbulos vermelhos diminui, embora no total se mantenham nos
mesmos valores – daí ser considerada uma anemia aparente.
Sangue mais líquido (ou seja, com mais plasma) é vantajoso
para os atletas de resistência ao permitir que o sangue circule melhor pelos
tecidos musculares, fornecendo desta forma mais oxigénio onde é necessário.
Um aumento da viscosidade do sangue (por exemplo, após tomar
o EPPO – o doping que estimula a produção de glóbulos vermelhos) - irá
sobrecarregar o coração, que terá de se esforçar mais para bombeá-lo pelo corpo
todo.
Os atletas, em geral, têm mais renovação de glóbulos
vermelhos, possibilitando que circule no sangue mais destas células ainda
jovens, com mais capacidade de transporte de oxigénio. Boa parte do ferro das
células “velhas” é reaproveitado na hemoglobina das novas.
E suplementos de ferro?
Uma alimentação equilibrada será o suficiente para fornecer
a quantidade de ferro necessária. Em particular alimentos de origem animal,
pois nestes o ferro (ferro heme) está numa forma mais disponível para ser
absorvido no nosso organismo.
Já o ferro dos vegetais vem acompanhado de outras
substâncias que limitam a sua absorção, como o oxalato ou as fibras, sendo
necessário acompanhá-los com vitamina C – sumo de laranja ou limão, por exemplo
Já quem tem uma anemia ferropriva poderá tomar suplementos
de ferro para aumentar a hemoglobina.
Há também os casos em que não se verifica anemia, mas o
ferro que temos em stock no sangue (e
em órgãos como o fígado) pode diminuir antes de se verificar anemia. Nestes
casos, embora na maioria dos estudos não se verifique aumento das capacidades
desportivas com a ingestão dos suplementos de ferro, estes costumam ser
recomendados como forma de prevenção.
No entanto, há muitos desportistas que tomam suplementos de
ferro apesar de não se encontrarem em situação de anemia ou pré-anemia.
Por exemplo, verificou-se que 1/3 dos ciclistas de estrada
franceses tinham excesso de ferro no soro do sangue (híper-ferritinemia).
Se não temos anemia, a ingestão de ferro não irá aumentar a
quantidade de glóbulos vermelhos. Em vez disso, ficará acumulado no organismo e,
a longo prazo, pode eventualmente causar doenças graves, como tumores no
fígado, diabetes, doenças coronárias, entre outras.
Assim, sugerimos que invista nos alimentos ricos em ferro, e
tome suplementos de ferro apenas sob prescrição
médica.
Sugestão científica de alimentos ricos em ferro:
- fígado
- carnes vermelhas
-outras carnes, peixes, ovos
- feijões
- uvas e ameixas secas
- espinafres
- outros vegetais de folha verde escura
Não se esqueça:
Nos alimentos vegetais acompanhe com vitamina C (limão,
laranja…)
Não tome café ou chá logo após as refeições com estes
alimentos
Constança Camilo-Alves
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