Quando comecei a treinar para
maratonas de BTT o meu companheiro de equipa aconselhou-me a fazer treinos
leves, com as pulsações baixas.
Eu não segui o conselho, queria
treinar, não passear. E lá ía eu a abrir na talega – objectivo: roubar tempo ao
percurso.Embora mais forte e mais rápida, não
me aguentava nas maratonas. Só me apetecia parar e descansar à sombra do
chaparro.
Foi só quando segui o seu conselho
que consegui aguentar um bom ritmo e até consegui alguns pódios.
Isto porque o corpo responde
essencialmente aos estímulos que lhe são impostos. Se treinamos com média-alta
intensidade vamos estimular as fibras musculares tipo II (que são as de
resposta rápida e da força) em detrimento das fibras tipo I (da resistência, de
resposta mais lenta), aquelas que nos interessa estimular.
As fibras tipo I têm melhor
capacidade de produção de energia e por muito mais tempo. São fibras que
precisam de oxigénio para produzir energia.
Nos treinos de ciclismo aumentamos
a ventilação pulmonar e melhoramos a capacidade do coração em bombear o sangue.
Mas é apenas nos treinos de pouca
intensidade que os músculos ficam mais capilarizados, favorecendo-lhes o
fornecimento de sangue: há assim mais oxigénio disponível para produzir
energia. Aumentam também, em quantidade e em eficiência, as mitocôndrias (as
fábricas de energia) das fibras tipo I.
Como resultado, as pulsações
baixam: ou seja, o coração não precisa de bater tão depressa para manter um bom
fornecimento de sangue aos músculos
Desta forma aguentamos mais tempo
a pedalar a maiores velocidades sem aumentar a nossa frequência cardíaca.
Além disso, ao favorecer o sistema
oxidativo de produção de energia, conseguimos aumentar o nosso limiar de
produção de ácido láctico pois a produção de energia pelos processos aeróbicos
torna-se tão eficiente que podemos estar a treinar com pulsações relativamente
altas mas ainda estamos a usar este sistema para produzir energia.
E assim ganhámos resistência!
No entanto, a eficiência destes
treinos está intimamente ligada ao tempo de duração. Assim, meia hora é o
mínimo necessário, mas é com treinos de pelo menos 2 horas que veremos mais
resultados.
Mas nem todos temos tanto tempo
disponível para dedicar aos treinos.
Felizmente, estudos científicos já
comprovaram que há treinos alternativos que dão um estímulo com resultados semelhante
ao organismo, mas em muito menos tempo.
Veja então o nosso próximo post
para saber.
Constança Camilo-Alves
Artigos científicos consultados:
Ghosh, A. K. (2004). Anaerobic
threshold: Its concept and role in endurance sport. The
Malaysian journal of medical sciences: MJMS, 11(1),
24.
Seiler, S. (2010). What is best
practice for training intensity and duration distribution in endurance
athletes?. International
Journal of Sports Physiology & Performance, 5(3).
Esteve-Lanao,
J., Foster, C., Seiler, S., & Lucia, A. (2007). Impact of training
intensity distribution on performance in endurance athletes. The
Journal of Strength & Conditioning Research, 21(3),
943-949.
Laursen,
P. B. (2010). Training for intense exercise performance: high‐intensity or
high‐volume training?. Scandinavian journal of medicine
& science in sports, 20(s2),
1-10.
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