Respirar
Talvez já tenham reparado que os ciclistas profissionais
não necessitam de aumentar (muito) a frequência da respiração, apesar do
aumento de intensidade nas provas?
Aquela respiração bastante rápida chama-se taquipneia e
permite aumentar a ventilação pulmonar e, por conseguinte, as trocas gasosas –
oxigénio e dióxido de carbono.
Mas há outra forma de hiperventilar, aumentando a quantidade
de ar que entra para os pulmões, sem aumentar (muito) a frequência
respiratória.
É respirar profundamente. A respiração profunda e
mais lenta é mais eficiente do que a respiração rápida e superficial.
Porquê?
Do ar que entra nos pulmões, aquele que entra em contacto
com os alvéolos (nas paredes dos pulmões) é que está sujeito a trocas com o
nosso sangue. Mas há também ar que entra e não é utilizado, ficando nos
“espaços mortos”. Na taquipneia, há mais circulação de ar nos espaços mortos do
que nos alvéolos, logo esta respiração não é tão eficiente nas trocas
respiratórias.
Além disso, há o custo metabólico em respirar e esse dispêndio
de energia pode comprometer a circulação sanguínea para os músculos que pedalam
(vão para os músculos dos pulmões). Um padrão eficiente de respiração –
respiração profunda- é mais económico, favorecendo o exercício.
No entanto, os estudos não sugerem que os ciclistas profissionais
são “treinados” para respirar assim. Antes referem adaptações fisiológicas eficientes
relacionadas com os treinos. Há que salientar que esses estudos comparam
profissionais vs ciclistas de elite amadores, e as diferenças só se
verificam nas altas intensidades. Talvez pela sua grande adaptação a esse tipo
de esforços, os profissionais não necessitem de entrar em taquipneia.
Mesmo assim, pode ser interessante tentar a respiração
profunda, uma vez que sabemos ser mais eficiente. O truque é “respirar pela
barriga”, ou seja, quando inspira empurra a barriga para fora – chamada também
de respiração abdominal e muito usada pelos praticantes de yoga.
Dê também tempo para “expirar” –os profissionais têm a
expiração mais prolongada que os amadores de elite.
Não garantimos que resulte, mas também vamos experimentar.
Constança Camilo-Alves
Artigos científicos consultados
Dempsey JP,
Hanson D, Pegelow D, Fregosi R (1982) Mechanical vs chemical determinants of
hyperventilation in heavy exercise. Med Sci Sports Exerc 14:131
Faria, E. W., Parker, D. L., & Faria, I. E. (2005). The science of
cycling. Sports medicine, 35(4), 285-312.
Lucía, A., Carvajal,
A., Calderón, F. J., Alfonso, A., & Chicharro, J. L. (1999). Breathing pattern in
highly competitive cyclists during incremental exercise.European journal of
applied physiology and occupational physiology, 79(6), 512-521.
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