4 de junho de 2015

Respirar nas provas




Respirar
Talvez já tenham reparado que os ciclistas profissionais não necessitam de aumentar (muito) a frequência da respiração, apesar do aumento de intensidade nas provas?
Aquela respiração bastante rápida chama-se taquipneia e permite aumentar a ventilação pulmonar e, por conseguinte, as trocas gasosas – oxigénio e dióxido de carbono.
Mas há outra forma de hiperventilar, aumentando a quantidade de ar que entra para os pulmões, sem aumentar (muito) a frequência respiratória.
É respirar profundamente. A respiração profunda e mais lenta é mais eficiente do que a respiração rápida e superficial.
Porquê?
Do ar que entra nos pulmões, aquele que entra em contacto com os alvéolos (nas paredes dos pulmões) é que está sujeito a trocas com o nosso sangue. Mas há também ar que entra e não é utilizado, ficando nos “espaços mortos”. Na taquipneia, há mais circulação de ar nos espaços mortos do que nos alvéolos, logo esta respiração não é tão eficiente nas trocas respiratórias.
Além disso, há o custo metabólico em respirar e esse dispêndio de energia pode comprometer a circulação sanguínea para os músculos que pedalam (vão para os músculos dos pulmões). Um padrão eficiente de respiração – respiração profunda- é mais económico, favorecendo o exercício.
No entanto, os estudos não sugerem que os ciclistas profissionais são “treinados” para respirar assim. Antes referem adaptações fisiológicas eficientes relacionadas com os treinos. Há que salientar que esses estudos comparam profissionais vs ciclistas de elite amadores, e as diferenças só se verificam nas altas intensidades. Talvez pela sua grande adaptação a esse tipo de esforços, os profissionais não necessitem de entrar em taquipneia.
Mesmo assim, pode ser interessante tentar a respiração profunda, uma vez que sabemos ser mais eficiente. O truque é “respirar pela barriga”, ou seja, quando inspira empurra a barriga para fora – chamada também de respiração abdominal e muito usada pelos praticantes de yoga.
Dê também tempo para “expirar” –os profissionais têm a expiração mais prolongada que os amadores de elite.
Não garantimos que resulte, mas também vamos experimentar.
 Constança Camilo-Alves
Artigos científicos consultados

Dempsey JP, Hanson D, Pegelow D, Fregosi R (1982) Mechanical vs chemical determinants of hyperventilation in heavy exercise. Med Sci Sports Exerc 14:131

Faria, E. W., Parker, D. L., & Faria, I. E. (2005). The science of cycling. Sports medicine, 35(4), 285-312.

Lucía, A., Carvajal, A., Calderón, F. J., Alfonso, A., & Chicharro, J. L. (1999). Breathing pattern in highly competitive cyclists during incremental exercise.European journal of applied physiology and occupational physiology, 79(6), 512-521.

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