Quando uma prova de ciclismo de estrada termina ao sprint, há que saber a altura certa para sair e atacar. Se o ciclista sai cedo demais, vemo-lo a esmorecer a poucos metros da linha de chegada e a ser ultrapassado por aqueles que calcularam melhor o momento do ataque.
Mas porquê?
Um dos grandes responsáveis pela (pouca) duração do sprint é o consumo rápido do combustível.
Durante o esforço de maior intensidade –de tudo ou nada – Consumimos muito e depressa.
A fonte energia que está ali pronta a ser usada é a fosfocreatina existente nos músculos. Trata-se de uma molécula de creatina com um átomo de fósforo acoplado. Quando se parte a ligação creatina-fósforo há libertação de energia que é transferida para os músculos em acção (através de moléculas de ATP).
Sendo simples, trata-se de um processo bastante rápido para fornecer muita energia de repente. No entanto há um senão. A fonte esgota-se depressa.
Vão-se partindo cada vez mais moléculas de fosfocreatina, com um pico máximo aos 10 segundos do sprint, e vai decaindo até cerca de 30 segundos.
A partir dos 10 segundos o fornecimento de energia também vem de outras fontes, em particular o processo anaeróbico do ácido láctico (glicolítico).
A partir dos 30 segundos o processo do ácido láctico e o processo aeróbico da respiração (oxidativos) são as duas fontes de energia preponderantes.
Após o sprint, para restaurar a fosfocreatina são necessários cerca de 2 a 4 minutos em recuperação – voltando a ser sintetizada para a próxima utilização.
Assim percebe-se a lógica dos treinos de séries. Sprints tudo-ou-nada e uns minutos de recuperação pra recarregar o sistema. Novo sprint, nova recuperação.
Agora, a parte mais aguardada: Como melhorar o sprint?
- Treinos de séries, que ajudam a máquina a tornar-se mais eficiente (sem grandes exageros, senão o efeito pode ser o oposto). Pode ver AQUI um exemplo de um treino.
- Carregar a creatina do corpo com suplementos, permitindo desta forma que haja mais disponibilidade de fosfocreatina quando for necessária. Disso também já falámos, veja AQUI como deverá tomar este suplemento antes das provas.
Então, e quanto tempo dura um sprint? São 10 segundos explosivos, para chegar à meta!
Mas para os outros sprints, como os das séries, ainda temos mais 20 segundos de força.
Mesmo com o treino, não alimente grandes esperanças de manter um valente sprint por muito mais do que 30 segundos. Poderá é eventualmente fazê-lo mais depressa do que os outros.
Constança Camilo-Alves
Artigos científicos consultados:
Daryl, L., & Irvin, E. F. The science of cycling-Physiology and Training–Part 1.Sports Med, 35(4), 285.
Sahlin, K., Harris, R. C., & Hultman, E. (1979). Resynthesis of creatine phosphate in human muscle after exercise in relation to intramuscular pH and availability of oxygen. Scandinavian journal of clinical and laboratory investigation, 39(6), 551-557.
McCartney, N. E. I. L., Spriet, L. L., Heigenhauser, G. J., Kowalchuk, J. M., Sutton, J. R., & Jones, N. L. (1986). Muscle power and metabolism in maximal intermittent exercise. Journal of Applied Physiology, 60(4), 1164-1169.
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